O skate do Ronaldinho

Até hoje eu fico impressionado com a influência que os filmes e desenhos animados têm sobre o pensamento das crianças. Eu me lembro que quando era garoto e tinha meus o quê?, sete, oito anos de idade, queria muito ganhar um skate; só porque o protagonista de um dos desenhos que mais gostava de assistir, fazia coisas incríveis em cima desse troço e eu, infelizmente, achava que podia fazer igual. Ruim pro meu pai, que sofreu com os meus insistentes pedidos durante dias. Tanto sofreu que acabou cedendo e me prometeu o skate para o final do mês seguinte.
Agora, imaginem: foram mais de quarenta dias de pura agonia e a cada hora, cada minuto que passava, a minha expectativa pelo brinquedo só aumentava. Até que finalmente o dia havia chegado, quando eu pensava que já não aguentaria mais de tanto esperar.
Desembrulhei o troço e fui com ele pra rua. Tomei um tombo... dois... três... e depois de uns trinta e cinco estabacos, peguei aquela porcaria e joguei no armário pra nunca mais usar. Fiquei completamente arrasado e meu pai completamente fora de si, deixando a marca dos seus dedos na minha nádega esquerda. Doeu muito e eu joguei o skate no lixo; troquei pelo patinete que estava na moda e era mais fácil de andar.
Depois disso, aprendi que criar expectativas demais causam tremendas decepções e comprovei essa ideia após ter lido sobre isso inúmeras vezes em jornais, revistas e sites da internet e ver que muitos outros tiveram seus 'skates' na vida.

Ronaldinho Gaúcho chegou, após uma novela que foi ao ar durante um ano. Tem aparecido nos jogos, vibrando, dando tchauzinhos e sorrisos e caiu nas graças da torcida sem sequer vestir o manto e mostrar seu já conhecido talento. Mas o que se passa na minha cabeça e em tantas outras cabeças de torcedores do Flamengo é a mesma coisa: como será sua estreia com a camisa rubro-negra? Será o skate luxuoso da nação? Entre os tombos e as manobras radicais, fica apenas a velha e maldita expectativa. Por favor, torcedores, NÃO a criem! Nem esperem que ele seja trocado por um patinete.

Nenhum comentário:

Postar um comentário